Como tornar o hábito do café mais sustentável? 6 Dicas
Quem, como eu, não dispensa um bom café e se preocupa com questões ambientais, já deve ter parado para pensar no impacto, ambiental e social, que este hábito tem. As formas de consumir café adotadas por nós, diariamente, implicam a geração de resíduos poluentes, que está a crescer, tal como o número de consumidores de café pelo mundo inteiro.
Vamos pensar: Quantos cafés tomamos diariamente? Desse total, quantos são preparados em casa e consumidos numa chávena? Quantos são comprados? Quantos são consumidos em recipientes descartáveis? Quantos filtros de papel gastamos num mês? E as cápsulas, sim ou não?
Estas são algumas das questões que devemos ter em conta quando consumimos café.
Nesta altura, em que os descartáveis estão a ser cada vez mais utilizados, devido à situção de pandemia global, podemos repensar este hábito e tentar tornar toda a experiência de saborear um café mais sustentável. Como?
Deixo 6 dicas simples, para nos inspirar a repensar este hábito e a torná-lo mais amigo do ambiente!
1- Assumir um compromisso com o meio ambiente, escolhendo café de produções sustentáveis e com certificação de qualidade.
Deveríamos consumir café produzido com base nas melhores práticas ambientais e que garantisse um rendimento digno aos trabalhadores.
Comprar café orgânico certificado, proveniente de comércio justo ajuda a proteger os agricultores, as suas famílias e o meio ambiente. Estas certificações garantem que os agricultores recebem um valor justo pela sua plantação de café sustentável.
Este tipo de plantação procura contemplar todos os aspectos relativos ao ecossistema e os cuidados agrícolas devem seguir padrões aceites pela FAO.
O solo deve ser preservado e todo o sistema hídrico cuidadosamente protegido de qualquer dejecto que contamine o ambiente e o lixo deve ser reutilizado de forma orgânica.
Estes 'cuidados' deveriam ser uma exigência de qualquer sociedade preocupada com o planeta.
2- Dizer não aos copos descartáveis!
Vivemos numa cultura da conveniência, baseando a nossa vida em apps e serviços que nos facilitam o dia-a-dia e, muitas vezes, fazem as coisas por nós.
Os copos de café descartáveis podem facilitar a nossa manhã, mas o ambiente paga caro por isso. Tanto pelo plástico e árvores utilizadas para os fazer como pela a falta de opções para estes serem reciclados.
Por ano, em Portugal, são utilizados, em média, 259 milhões de copos de café de plástico. Mesmo os copos que supostamente são de papel, na verdade não são só de papel, têm também uma camada de plástico que os torna mais difíceis de reciclar e as probabilidades de acabarem em aterros são bastante elevadas.
Solução?
Podemos andar sempre com um copo ou caneca reutilizável atrás, ter sempre um connosco na mala ou no carro, e assim usamos o mesmo recipiente todos os dias. Se nos esquecermos do copo, não levamos o café connosco e tentamos beber no local, mesmo que não seja tão conveniente.
Para quem trabalha num sítio fixo onde há máquinas de café... Eu retiro o copo que a máquina deita automaticamente, coloco-o numa das máquinas de água que há ali ao lado e ponho o meu copo de silicone onde estava o de ‘papel'.
Foi a solução que arranjei para conseguir beber cafés na máquina do estúdio, mas cada um encontrará a solução mais ecológica e mais prática para si.
Há vários copos que podem andar sempre connosco: De vidro, silicone, inox... As ofertas são muitas e estes podem durar uma vida. Os meus preferidos são de silicone dobráveis, pois são muito práticos para andar na mochila ou na mala.
3- Escolher uma Máquina de café mais amiga do ambiente
Hoje em dia existem vários métodos de fazer café! O ideal é escolher uma forma que seja prática para nós, mas que não prejudique o meio ambiente.
Eu prefiro as cafeteiras manuais, como a cafeteira francesa e a italiana (também chamada Moka). São muito práticas, baratas e não gastam energia, nem filtros. Na francesa é só colocar o café, deitar água quente lá para dentro, esperar, colocar a tampa, empurrar o filtro e está feito. Na Italiana coloca-se a água e o café directamente na cafeteira, vai ao lume, a água sobe e o café fica pronto em poucos minutos. Estas opções não precisam de usar filtros de papel, o que facilita as coisas e o planeta agradece.
Descobri recentemente uma outra cafeteira manual, que é a que tenho usado (depois de a francesa se ter partido). Esta necessita de filtro, mas eu arranjei um coador de pano que tenho usado como filtro todos os dias, e que penso que durará muito tempo. Foi a minha alternativa a fazer um filtro de pano, que era a minha ideia, mas como emprestei a máquina de costura, arranjei esta solução para não ter comprar filtros de papel. Há vários tutoriais online que ensinam a fazer os filtros de pano para as cafeteiras.
Se o sabor fica diferente com o filtro de pano? Não! Eu até gosto mais.
Se não dispensam as máquinas eléctricas, há várias soluções. As que usam filtros de papel, que podemos substituir pelos de pano, as que usam cápsulas, mas que hoje em dia já as conseguimos usar gerando uma pegada ecológica menor (já a seguir vou falar das cápsulas, especificamente), as de pastilhas de papel que podem ser colocadas no composto caseiro e as expresso que não usam cápsulas.
Muito honestamente, para quem não dispensa um café expresso em casa (eu tenho saudades, mas abdiquei desse hábito há muito tempo), o melhor, na minha opinião, será uma máquina de café expresso sem cápsulas, em que enchemos directamente o manípulo com café moído e fazemos como se fazia antes de aparecerem as cápsulas, e como ainda se faz na maioria dos cafés de rua.
Outra coisa em que devemos pensar é, o que fazer com uma máquina que já não usamos, mas que ainda funciona?
Podemos (e devemos) doá-la a instituições de solidariedade, como por exemplo o Banco de Equipamentos.
No fim da vida útil das máquinas de café devemos depositá-las num dos pontos de recolha disponibilizados pelas entidades gestoras AMB3E e ERP Portugal.
Ah, e nunca nos devemos esquecer de desligar a máquina da corrente sempre que não a estamos a utilizar. Acham too much? Então, pelo menos quando vamos de férias. Já ouviram falar da energia fantasma? Um dia falarei sobre isso :)
4- Repensar a utilização das famosas cápsulas.
As cápsulas de café são, inegavelmente, uma conveniência dos tempos modernos, mas têm um lado que não é assim tão bonito. A esmagadora maioria acaba em aterros sanitários, solução última para o tratamento de resíduos.
O café em cápsula, é uma forma de consumo que gera bastantes resíduos para o meio ambiente e o destino destes deverá também ser uma preocupação. Temos de reflectir e ter em consideração todo o ciclo de consumo, da geração de resíduos até ao destino final. Eu não uso, já usei, mas abdiquei deste hábito por achar que a importância que tinha na minha vida era muito inferior às consequências que este hábito tem no planeta.
Se não queremos abandonar esta opção, que sem dúvida, é prática, já existem algumas alternativas para que este hábito possa ser um pouco mais consciente:
- Podemos procurar cápsulas reutilizáveis, que já conseguimos encontrar compatíveis com quase todo o tipo de máquinas.
As cápsulas reutilizáveis são uma solução muito mais ecológica e económica, mas há quem diga que são pouco práticas. Para fazer mais do que um café, é preciso aguardar que a cápsula arrefeça, o que chega a demorar 10 minutos, sobretudo se for de metal. Se tivermos um jantar de amigos em casa, não será mesmo muito prático (não querendo desmotivar, juro).
- Podemos fazer uma escolha em relação ao tipo de cápsula que compramos, mas não esquecer que é sempre um lixo que estamos a produzir e que podia ser evitado.
Algumas delas são feitas de alumínio, um material que pode ser infinitamente reciclado, sem que se percam as suas qualidades. Através deste processo, a sua reciclagem requer apenas cinco por cento da energia necessária à sua extracção.
Estas cápsulas, depois de usadas, podem ir para a reciclagem. Informem-se junto da marca de café que utilizam quais os locais de recolha mais próximos. Algumas marcas até recolhem em casa, quando entregam as novas cápsulas.
Também há as cápsulas feitas num material 100% biodegradável, mas devemos ter cuidado pois uma marca bastante conhecida anunciou há um tempo o lançamento de uma cápsula com “0% plástico” e “100% biodegradável”, mas, embora o produto não contenha o plástico tradicional que deriva do petróleo, o principal componente, um bioplástico, só é compostável industrialmente. Continua a ser lixo...
5- Moer o café em casa!
A maior parte dos cafés previamente moídos vêm em embalagens de vácuo, que são feitas de plástico metalizado, o problemático BOPP, que é de difícil reciclagem. Muitas marcas têm ainda uma embalagem externa de papel. O ideal, do ponto de vista do sabor e da redução de embalagens, será comprar o café em grão, a granel, em lojas especializadas e moer apenas na hora de preparar o café.
É um habito que se torna divertido (nem sempre consigo moer no próprio dia) e sentimos que fazemos mais parte do processo, parece que o café fica mais nosso, e, na minha opinião, ganha outro sabor.
Se for inviável comprar a granel onde moram, dêem preferência a embalagens recicláveis :)
6- Reaproveitar as borras
O café é um ingrediente rico para a pele e a borra do café pode ser reaproveitada como esfoliante caseiro, promovendo a limpeza e circulação desta, devido às suas propriedades antioxidantes e anti inflamatórias.
As borras também podem ser usadas na fertilização de plantas, para ajudar na compostagem e até podem servir como repelente de insectos.
Espero que tudo isto vos tenha inspirado a serem consumidores de café mais éticos e amigos do ambiente. Bons cafés :)
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