Ana Brandão e a “Bina” Amarela
A Ana e a sua “Bina” amarela são pura poesia.
Para quem possa andar distraído e não saber quem é a Ana Brandão, poderá hoje conhecer um pouco mais desta maravilhosa actriz e cantora, com um percurso ímpar nas Artes em Portugal.
A Ana faz parte do meu imaginário, ainda hoje canto uma das músicas que ela cantava no incrível espectáculo do Teatro O Bando, “A Balada de Garuma”. A voz dela é de uma identidade e plasticidade únicas e podem ouvi-la nas músicas que canta com a banda Real Combo Lisbonense. Também poderão ouvi-la em dois concertos que vai dar com o pianista João Paulo no início deste mês. Vejam nas sugestões da nossa Agenda de Junho.
Para além de a podermos ver nos palcos, temos o privilégio de nos cruzarmos com ela na sua “Bina” amarela diariamente em Lisboa, pois adoptou a bicicleta como meio de transporte principal para a sua vida. A Ana é inspiradora, dentro e fora dos palcos e deixa magia por onde passa.
Se eu assim de repente te perguntasse: Quem és tu? O que é que te vinha logo à cabeça para te apresentares?
Sou a Ana, actriz e cantora.Tenho 48 anos. Formei-me como actriz no curso do Instituto Franco Português. A minha mãe é a Gracinda e o o meu pai era o Júlio. Tenho três irmãos e três sobrinhos. Tive quatro animais. O peixe Bomba, o canário Filipe, o gato Beckett e o cão Tricky. Tive muitos namorados. Fiz muitas peças de teatro e muitos concertos. Casas e pessoas boas com quem trabalhei: Primeiros Sintomas, Tep, Teatro Aberto, Mala Voadora, Nuno Cardoso, Beatriz Batarda. Sérgio Marques, Paula de Vasconcelos, Carlos Bica, João Paulo Esteves da Silva, Real Combo Lisbonense. O cinema que fiz com o João César Monteiro, Raquel Freire, Margarida Gil, José Filipe Costa, Sérgio Graciano.Viajei muito a trabalhar : Bogotá, Querença, São Tomé e Príncipe, Rio de Janeiro, Sever do Vouga, Viena, Braga, Montreal, Sarajevo, Montalegre, Puerto Natales, Paredes de Coura, Puerto Mont, São Miguel, Maputo, Alcoutim. Ando de bicicleta na minha cidade. Tenho saudades do meu pai.
Quando começaste a usar a bicicleta de forma regular? Quais foram as principais motivações para te deslocares desta forma?
Como escrevo um diário desde os 18 anos até vos consigo dizer o dia exacto: dia 2 de abril de 2013. Eu já andava de bina mas só aos fins de semana. No dia 2 perdi o passe social pela segunda vez num mês e achei que era o sinal e comecei a usar a bina como o meu meio de transporte. Só não ando quando chove muito. Andar de bina faz bem ao ambiente e à minha mente e corpo. Não preciso de ginásios.
Como é a tua rotina quando andas de bicicleta? Como preparas os trajectos? Tens algum cuidado especial?
No dia anterior vejo se vai chover ou não. Calculo o tempo que demoro a chegar ao meu destino. Se vou a um casting ou conversa importante ou mesmo um encontro amoroso, chego 15m antes para não estar toda suada, se for o caso, troco de sapatos, ou roupa, que vão na mala. Quando levo saia ou vestido uso uma mola para prender. Pode ser perigoso e o tecido enfiar-se na roda. Já me aconteceu e rasguei uma saia e quase caí. Levo sempre o meu capacete e cadeado para prender a bina.
Quais as tuas rotinas ou o que fazes para tentar encontrar o equilíbrio num mundo em que o ritmo é cada vez mais acelerado e nos são exigidas cada vez mais tarefas?
Andar de bina. Organizar binadas com as minhas amigas “bineiras”. Tentar calcular o tempo de maneira a que não tenha de andar a correr, a stressar. Estar com os meus sobrinhos. Deitar-me no chão da minha sala, pôr um cd e ouvir só a música a olhar para o tecto e não pensar em mais nada. Inventar histórias com os meus “legos mini figuras” e fotografá-los. Ler e sublinhar.
O que fazes, tentas ou gostavas de fazer para contribuir para um mundo mais sustentável?
Andar de bina. Ter sempre na minha mala os meus sacos de pano para ir às compras. No supermercado, pesar a fruta e os legumes e não pôr dentro dos sacos de plástico mas tudo nos sacos de pano que levo. Tomo duche e tenho um balde que vai enchendo de água que depois é usada na sanita. Tenho uma garrafa dentro do autoclismo. Gostava de reciclar mais o lixo. Mea culpa meaculpa mas muitas vezes não o faço.
Sem limites à imaginação como seria o teu mundo amanhã?
O meu mundo amanhã seria com aqueles que mais amo sempre à minha beira, em liberdade, sem medo, com saúde e a cuidar do nosso planeta como cuidamos da nossa casa, com muito amor e carinho e sempre com um grande sorriso na cara.